O quão longe uma marca pode ir quando bem posicionada?
- Flavia Brito
- 6 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
A Soullé foi minha primeira filha. Ela nasceu com um propósito de fazer parte dos simples momentos do dia a dia dos clientes. Ela não vendia biquínis, ela vendia companhia. Ela não vendia maiôs, ela vendia alma carioca. A sua essência era de uma mulher contemporânea, que levava a vida de maneira leve e despojada, mas gostava de estar sempre arrumada e pronta para qualquer ocasião, mesmo que os planos mudassem.
A história da Soullé começou em 2016 no Rio de Janeiro, após uma ida à praia. Observando o comportamento das consumidoras de biquínis tanto na praia quanto nas lojas, percebemos que havia um gap de mercado: trazer extrema qualidade e sofisticação a um preço justo, que não fosse de luxo.
Dali em diante, enquanto procurávamos por fornecedores para produzir as nossas peças, também continuamos estudando o mercado que parecia extremamente saturado: Rio de Janeiro, praia, calor, verão 365 dias no ano. Dress code obrigatório: biquíni.
A vida dá muitas voltas, e temos mesmo que estar preparados para elas. Eu sempre disse que sonhava em trabalhar em uma empresa multinacional e ter um cargo alto, mas que nunca, em nenhuma hipótese, seria dona da minha própria empresa. O meu pai já tinha tido restaurante, os meus irmãos empreendiam, e nem tudo são flores nesse mundo da “liberdade”. Eu já sabia. Mas, resolvi entrar de cabeça nesse projeto, muito porque estávamos em uma época difícil, economicamente falando, no Brasil (e especialmente no Rio de Janeiro. As pessoas estavam sem receber salários, como elas comprariam biquínis?) e o tal do emprego dos sonhos parecia algo irrealista por um longo prazo. Mas, tudo isso para dizer que quando aceitei entrar nessa “loucura”, eu só tinha uma certeza: se é para fazer isso, não seremos apenas mais uma marca no mercado. A Soullé vai ser especial e vamos nos destacar vendendo a nossa essência.
Soullé = saule (sol em lituano) + soul (alma em inglês).
O nome, a logomarca e a paleta de cores carregavam com força a nossa essência, que era transmitida em cada detalhe. Os produtos eram embalados em saquinhos brancos e amarelos com etiquetas sobre o tecido sustentável e da melhor qualidade do mercado. Tudo dentro de uma caixa branca personalizada, com gramatura resistente, e vinil localizado na logomarca para dar destaque e sofisticação.
Por dentro, o papel seda branco completava o visual da embalagem e envolvia os nossos saquinhos, que iam acompanhados de balinhas personalizadas as quais nossas clientes poderiam levar na bolsa e, mais uma vez, a Soullé estava em qualquer momento do seu dia a dia. Um cartão de agradecimento em papel amarelo de gramatura de 350 gramas com textura em alto relevo para completar a experiência do tato, que explicava um pouco sobre a nossa essência, como surgiu a Soullé, e incentivando as nossas clientes a postarem nas redes sociais com a hashtag personalizada que desenvolvemos para a marca, de forma a acompanhá-las em todos os momentos do dia a dia. Nesse cartão, os nomes das clientes e a assinatura dos sócios eram feitos à mão para transmitir personalização e carinho a cada cliente. Por fim, para finalizar a experiência física, um aroma exclusivo da Soullé que remetia à praia, um cheiro levemente doce de maresia que fazia qualquer cliente lembrar de um bom mergulho no mar.
A audição completava a experiência do cliente no digital, já que, inicialmente, a proposta da marca era vender apenas de forma online. O e-commerce da marca tinha uma playlist para acompanhar a cliente enquanto ela fazia as suas compras.
Mesmo já estando no mercado, a Soullé nunca deixou de acompanhar e entender o comportamento dos clientes. Assim, a marca percebeu que precisava de um espaço físico pois, naquele momento, as pessoas ainda faziam questão de experimentar. Foi assim que a Soullé levou sua experiência também para o físico: entrou em duas lojas colaborativas, bem posicionadas em bairros (freguesias) nobres na cidade e que também possuíam outras marcas alinhadas com o posicionamento e público da Soullé. E escolheu também participar de algumas feiras importantes no Rio de Janeiro, como a conhecida Babilônia Feira Hype, que tinha marcas famosas que lá surgiram, como a icônica Farm. Não era uma feira fácil para uma nova marca entrar, mas a Soullé conseguiu, e foi um momento importante que comunicava a força que a empresa tinha em pouco tempo de nascimento.
Com um ano e meio de vida, a Soullé Beach Wear já tinha sido convidada para fazer negócios com a WGSN, a maior empresa de tendências do mundo. Recebeu proposta para parcerias com a Manu Gavassi, atriz e cantora brasileira. Fez associações com a influenciadora Julia Faria, a qual esgotou duas vezes o estoque dos produtos apenas com postagem de recebidos, e sem ter feito qualquer investimento financeiro. E foi selecionada para participar de um evento com a Camila Farani, empresária, investidora e jurada do Shark Tank Brasil, onde apenas empresas de inovação estariam inseridas.
Esses convites foram os mais impactantes e inacreditáveis que a Soullé recebeu. E foram nesses momentos que entendemos que as nossas estratégias estavam nos levando ao caminho certo para atingir o objetivo que desejávamos.
O erro de muitas empresas é só pensar em vendas. É só pensar se tal estratégia vai dar retorno financeiro imediato. Mas esquecem de olhar para o futuro.
Muitas estratégias servem para trazer credibilidade e autoridade para uma marca. Outras estratégias servem para trazer visibilidade e notoriedade para uma marca. E outras estratégias servem para alavancar uma marca.
O que fez a Soullé ter todo este impacto? Envolver e conectar a cliente com a essência da Soullé em todos os pontos de contato.
Uma marca forte se diferencia pela sua essência.
Flavia Brito
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